terça-feira, 29 de abril de 2008

Caráter pessoal do Corpo

O carácter pessoal do corpo
O corpo é uma parte da personalidade humana. Como vimos, somos pessoas de carne e osso e para nos expressarmos e realizarmos necessitamos do nosso corpo. Fazemos tudo através dele. Para que essa expressão e realização saia bem temos de treinar o corpo. Há que aprender a dançar, a escrever, a andar, a falar, a pintar, a praticar qualquer desporto, a cantar e inclusive a comer. Se não, essas actividades fazem-se mal, duma forma tosca, sem graça, como pessoas incultas ou como animais. Para todo o tipo de expressão é necessário ter um corpo bem treinado. Esse treino é o modo de "personalizar" o corpo, para que não seja simplesmente carne e osso, mas expressão do meu eu, dos meus gostos, da minha pessoa. Através do treino e da educação, o corpo integra-se na nossa personalidade e permite-nos desenvolvê-la. O treino faz que a unidade de alma e corpo seja algo operativo, prático.
Se não há treino, ainda que a pessoa queira expressar-se e realizar-se, não poderá, sentirá a frustração de não poder comunicar o que tem dentro, de não poder realizar os seus sonhos. Em lugar de cantar, sairão uns uivos próprios de animais; em lugar de dançar, uns movimentos desajeitados e ridículos; em lugar de saber exprimir-se, falará como um inculto e não poderá transmitir o que sente; em lugar de comer com dignidade, parecerá um animal que satisfaz os seus instintos e provocará repugnância. Isto é uma coisa que todos sabemos.
Ora bem, o mesmo se passa com a nossa sexualidade. É a expressão corporal da nossa capacidade de amar e de nos entregarmos por inteiro, mas se não a educarmos, em lugar de servir para expressar e realizar o amor, arrastar-nos-á a comportar-nos como animais, como se passa com quem não sabe falar ou não sabe comer. Que a sexualidade seja expressão de amor é algo exclusivo e típico do homem. E, como tudo o que é tipicamente humano, é algo que está por realizar, algo que há que conseguir com base no exercício da própria liberdade.

A tarefa de personalizar a sexualidade
Temos a experiência de que o modo de viver para os outros pode ser normal, mas sabemos também que podemos cair em considerá-los como simples objectos sexuais. Por isso, o modo de vestir, as maneiras de estar e atitudes, o modo de olhar ou de pensar duma pessoa, devem ter em conta este factor. Há que ser realistas, há que assumir que podemos cair mais baixo do que os animais.
Porque os animais não são pessoas e não têm que se olhar como tal, nem a si mesmos, nem aos outros. Quando se olham como simples animais não fazem outra coisa que actuar segundo a sua natureza. Mas nós somos pessoas e o corpo de cada um é parte e expressão da sua intimidade pessoal, uma intimidade que está feita para ser respeitada e amada. Por isso, rebaixá-lo a simples objecto do apetite sexual é uma grave ofensa à sua dignidade de pessoa. E, quem considera assim outro, está rebaixando-se a si mesmo mais do que os próprios animais. Porque os animais não têm culpa, o homem impuro tem.
O domínio do corpo, dos apetites, da imaginação, dos olhos, é parte indispensável dessa educação da sexualidade que se converterá em expressão adequada da nossa capacidade de amar. Sem essa educação, a sexualidade, como qualquer outro aspecto do corpo, actua a nível simplesmente animal, não é capaz de expressar a nossa personalidade espiritual. E não será capaz de ser instrumento do amor, mas sim do egoísmo animal, típico de um apetite corporal não educado.